sexta-feira, 18 de setembro de 2015


... uma vivência, meus excertos (...)

Há sempre um começo na vida de qualquer pessoa, quando abri os olhos vi um rosto e instintivamente pronunciei a palavra "mãe", acho que se  passa na generalidade com todas as pessoas, a pessoa que está ao nosso lado e assim aconteceu, mãe,  sim porque é mãe toda aquela que cria, que ama, que ensina e educa, tudo isso essa mulher fez por mim,  Luzia Gomes esta mãe que tive e permaneceu comigo até a idade de trinta e seis anos.  Sempre viveu comigo agora com a Antonieta minha mulher eramos três, depois de me casar vieram os três filhos que ela ainda assistiu-os, os mais velhos, pois tenho mais dois que nasceram depois, obviamente que ela não pode acompanhá-los eu acompanhei-a até ao momento que foi possível.
A sua existência física chegou ao fim a vinte de Abril de mil novecentos e oitenta e sete, mas é raro o dia em que não me lembre dela, está no meu subconsciente (...) lembranças  boas os seus cabelos brancos e a energia que tinha, a sua compleição física, era estreita, não teria mais de cinquenta e tal quilos, foi sempre assim, com imenso vigor, lúcida até ao fim, generosa e de extrema compreensão, fazendo dela, pelas pessoas que a conheciam como confidente e conselheira.
Muxima, antes de tudo tem a significação que em "quimbundo" um dos dialectos de Angola quer dizer: coração.  Este nome profundo que o povo atribuiu a Rainha e Mãe (Mamã Muxima),  está localizado no municipio da Quiçama, Província do Bengo, Angola, a Igreja  está voltada para o Rio Cuanza, constitui um ex-libris, a Fortaleza a Igreja e o Rio, esta paragem lindissima tem atraído um grande  número de peregrinos, de referir que no Continente africano e a mais Venerada.
Ela fez-me conhecer o caminho para a Muxima, lugar segundo ela mo afirmou, "foi aqui onde tu fostes pedido",  pois a minha mãe não alcançava, era costume fazer-se uma "novena" e cumprir esta mesma "Novena"  e a "Novena", realizou-se. Conxistia, como o próprio nome indica permanecer em Novena nove dias, findos os quais, a pessoa esperaria a providência divina, e assim foi.
Dizia ela "Tu és filho da "Novena" eu pedi a Virgem Nossa Senhora da Muxima, depois de nascer ainda com meses de idade, ela foi apresentar-me a Virgem e daí por diante sucessivamente ano após ano era uma constante.
Muxima, local que se prende com a minha cultura, sou de Luanda onde nasci no Hospital Central de Luanda, em Agosto de mil novecentos e cinquenta e um, numa das enfermarias para o efeito, pois era, nessa altura que as parturientes tinham os seus filhos.
Vivia no Bairro Operário,  era um bairro  que tinha como limites a Rua de Massangano a norte onde existe habitações feitas pelo Estado, por uma construtora a "Abricon", eram vivendas e chalés, e a sul a Rua Missão de S.Paulo, a oeste pela Rua Paiva Couceiro, e a este por Rua António Enes ao invés do Bairro Operário era um quarteirão de casas de habitação diversas consoante a possibibilidade de cada um desses moradores, a  Urbanização  da  "Abricon"  é dentro da malha da cidade.
O comércio desse tempo, eram as lojas de comércio misto, do Lima, do Pinho, Reis e o Carneiro,  havia o mercado ao pé da casa do Sr. Cordeiro, que era bancário, a familia Cordeiro, a dona Maria Cordeiro, os filhos, Mário, Fátima e José Cordeiro, o filho mais velho era o pai José Mário, padrinho de casamento da minha filha Eliana,  o José Cordeiro tocava Viola no N,Gola Ritmos, também a Chica, que fazia parte da família e a Anita mãe do José Mário.
 Vivi com meu padrinho Mário Gomes, filho de Virgilio Pedro Gomes, que era Despachante Oficial, e fundador da Liga Nacional Africana, a minha mãe conforme lhe chamava era mãe do Mário Gomes, que trabalhava na Sousa & Tavares, Oficina de Mecânica Geral e jogava no Atlético, e também no Campo do Machado no Bairro Operário.
A mãe Luzia disse-me que devia ter uma madrinha, e escolheu  a sua sobrinha Victória Cruz, filha do Enfermeiro Louro, tratava-lhe por avó Louro.
Não tenciono contar os primórdios da minha vida, mas a ocasião não me deixou omitir,  seria como que um novelo que se desmancharia começando por uma ponta, mas não me permitirei, contar tudo, apenas estes excertos servem para descrever o  percurso da minha vida, por exemplo; estudei na Missão de S.Paulo, Escola Primária, mais tarde Escola Técnica Emidio Navarro, e depois Escola Industrial de Luanda.
São estes promenores que cada um tem  e eu procurei contá-los não como obrigação, seguir um critério e focar datas, penso que não é necessário, o que é preciso é ter a noção dessas particularidades e trazê-las a público sem pudor, porque é a verdade e ficam-nos tão bem dizer o pouco que somos, com naturalidade, é isso que interessa.
Começei a trabalhar nos Tribunais, Varas Cíveis e Juízos Correccionais, estes são alguns passos da minha vida. António Cardoso


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